segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Quem Visitou Jesus, Pastores, Reis ou Magos.



 

Historicamente, não é possível determinar a questão. O fato é que a comunidade de Mateus, que tem como intenção manifestar Jesus aos povos (epifania), apresenta os magos estrangeiros visitando e acolhendo o messias na criança de Belém.

A comunidade de Lucas, no entanto, anunciando a boa-nova aos pobres apresenta os pastores como primeiros destinatários da notícia do nascimento do menino na manjedoura da gruta de Belém.

Na seqüencia, vamos fazer uma breve reflexão ou um comentário a cada um dos dois textos.


No primeiro texto, vamos nos dirigir à comunidade de Mateus:  Ao contar a visita dos magos a Jesus Menino, a comunidade não pretendia narrar um relato histórico ou um fato jornalístico. Quiseram significar o encontro de Jesus com os outros povos e culturas. Mateus vivia numa realidade econômica diferenciada tinha acesso aos ricos, aos sábios, aos Homens cultos do lugar, havia sido coletor de impostos um empregado do rei, era rico e sabia muito bem que apresentar Jesus  o Rei dos Judeus nascido numa estribaria e os primeiros visitantes havia sido pastores de ovelhas uma classe pobre e marginalizada, ninguém lhe daria crédito,  se havia sido conhecido e visitado por Magos dava outra conotação, pois magos eram homens sábios.


No segundo texto, a comunidade de Lucas, afirmam que pastores representam gente pobre e discriminada: "Pessoas que vivem marginalizadas de tudo são as primeiras convidadas (2,8). Os pastores reconheceram Deus presente numa
criança (2,20)" não teria sido tão difícil a identificação (empatia) destes com o Messias, só aumentaria nestes a esperança da tão sonhada libertação do domínio Romano.

 

Em Belém: culturas diferentes à busca do mesmo Deus (Mt 2,1-12)
O Livro "Conversando com Mateus".

Encontramos comentários bíblicos como Isaías 60, o salmo 72 e (Nm 24,17 Prefigurando a Luz de Cristo rompendo as trevas e mostrando aquEle que é Caminho, Verdade e Vida).

Soa como um poema o capitulo (Is 60) e, podemos entender que o salmo 72 vêm de uma época na qual Jerusalém estava sendo reconstruí­da. Os recursos eram poucos e, em comparação ao que era antes de ser destruída pelos babilônios, era uma aldeia. O profeta vê o sol nascer sobre a cidade e proclama a promessa de Deus de que, um dia, Jerusalém será luminosa e cheia de glória e os reis das nações a ela acorrerão trazendo presentes. Num contexto de sofrimento e de revalorização da identidade do povo pobre, aquela visão nada tinha de etnocentrismo. Era universalista. Aplicando essa profecia aos magos que vêm homenagear a criança pobre que nasceu em Belém, vocês a tornam mais universal ainda.

Embora não se tenham prova que os magos eram reis e santos ou pastores, como a tradição soube acrescentar, foi contando que eles gostavam das estrelas e vieram de longe, do oriente, atrás de uma estrela e em busca do Rei dos judeus que acabara de nascer neste mundo. Porque o brilho desta estrela indicava o exato local onde se encontrava o Menino? Na cultura judaica na qual a comunidade estava inserida, não deve ter sido fácil para reconhecerem que até a astrologia e a interpretação dos sonhos podem conduzir pessoas como os magos ao Senhor.

Porque chamam os magos de "astrólogos''?, Na região da Síria e da Ásia Menor era praticada a religião do deus Mitra. Era um sincretismo de antigos cultos ao sol. Os fiéis de Mitra contavam que o seu deus nasceu numa caverna na noite de 25 de dezembro. Aliás, por acaso, os sacerdotes de Mitra se chamavam "magos", porque eram homens que lidavam com os astros e com os mistérios da vida.

Será que, ao contar a bela história dos magos que vieram a Belém adorar o menino Jesus, quiseram assumir algo da história de Mitra e transpô-la para o contexto cristão? Hoje, falamos muito de inculturação. Mas ainda há muitos bispos e pastores que têm preconceito contra sincretismo ao ponto de não abrir espaço para o diálogo. Será que, nessa história, a comunidade de ‘Mateus queriam nos ensinar que há um tipo de sincretismo que é válido e compreensível?

A visita do anjo aos pastores - Paz aos Excluídos! (Lc 2,1-20) - por Mesters e Lopes
Livro "O avesso é o lado certo"

1. PARA ENTENDER MELHOR
O motivo que levou José e Maria a viajar para Belém foi o recenseamento decretado pelo imperador de Roma (Lc 2,1-7). Periodicamente, as autoridades romanas decretavam tais recenseamentos nas várias regiões do seu imenso império. Era para recadastrar a população e saber quanto cada pessoa tinha que pagar de imposto. Os ricos pagavam imposto sobre a terra e sobre os bens que possuíam. Os pobres pagavam pelo número de filhos. Às vezes, o imposto total chegava a mais de 50% dos rendimentos da pessoa.

Há uma diferença significativa entre o nascimento de Jesus e o nascimento de João. João nasce em casa, na sua terra, no meio dos parentes e vizinhos e é acolhido por todos (Lc 1,57-58). Jesus nasce desconhecido, fora de sua terra, no meio dos pobres, fora do ambiente da família e da vizinhança. "Não havia lugar para ele na hospedaria". Teve que ser deitado numa manjedoura.

2. QUEM FORAM CONVIDADOS
2.1 Lucas 2,8-9: Os primeiros convidados
Os pastores eram pessoas marginalizadas, pouco apreciadas. Viviam junto com os animais, separados do convívio humano. Por causa do contato permanente com os animais eram considerados impuros. Ninguém jamais os convidava para vir visitar um recém-nascido. É a estes pastores que aparece o anjo do Senhor para transmitir a grande notícia do nascimento de Jesus. Diante da aparição dos anjos, eles ficam com medo.

2.2 Lucas 2,10-12: O primeiro anúncio da boa-nova
A primeira palavra do anjo é: "Não tenham medo!" A segunda é: "Alegria para todo o povo!" A terceira é: "Hoje!" Em seguida, vêm três nomes para identificar quem é Jesus: Salvador, Cristo e Senhor! SALVADOR é aquele que liberta todos de tudo que os amarra! Os governantes daquele tempo gostavam de usar o título de Salvador (Soter). CRISTO significa ungido ou messias. Era um título dado aos reis e aos profetas. Era também o título do futuro libertador. Significa que esse menino recém-nascido veio realizar as esperanças do povo. SENHOR era o nome que se dava ao próprio Deus! São os três maiores títulos que se possa imaginar. A partir deste anúncio do nascimento de Jesus como Salvador, Cristo e Senhor, você imagina alguém da mais alta categoria. E o anjo lhe diz: "Atenção! Tem um sinal! Você vai encontrar um menino deitado num barraco no meio dos pobres!" Você acreditaria? O jeito de Deus é diferente mesmo!

2.3 Lucas 2,13-14: Glória no mundo de cima, Paz no mundo de baixo
Uma multidão de anjos aparece e desce do céu. É o céu desabando sobre a terra. As duas frases do refrão que eles cantam dão o resumo do que Deus quer com o seu projeto. A primeira diz o que acontece no mundo lá de cima: "Glória a Deus nas alturas". A segunda diz o que vai acontecer no mundo cá de baixo: "Paz na terra aos seres humanos por ele amados". Se a gente pudesse experimentar o que significa realmente ser amado por Deus, então tudo mudaria e a paz viria morar na terra. E isto seria a maior glória para Deus que mora nas alturas.

2.4 Lucas 2,15-20: A palavra vai sendo acolhida e encarnada
A Palavra de Deus não é apenas um som que a boca produz. Ela é, sobretudo, um acontecimento! Os pastores dizem, literalmente: "Vamos ver esta palavra que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer!" Em seguida, Lucas diz que "Maria conservava estas palavras (acontecimentos) em seu coração" e as ruminava. São duas maneiras de se perceber e acolher a Palavra de Deus: 1) Os pastores se levantam para ir ver os fatos e verificar neles o sinal que foi dado pelo anjo; 2) Maria conserva os fatos na memória e as confere no coração. Ou seja, ela conhece a Bíblia e tenta entender os fatos novos iluminando-os com a luz da Palavra de Deus.

3. DAS TREVAS A LUZ
Novamente, ao longo da descrição do nascimento de Jesus, Lucas sugere que as profecias se realizaram! Eis algumas delas:
Apareceu a luz das nações, anunciada por Isaías! (Is 9,1; 42,6; 49,6).
Nasceu o menino, prometido pelo mesmo profeta (Is 9,5; 7,14).
O menino que devia nascer para dar alegria ao povo e trazer a salvação de Deus (Is 9,2).
Ele nasceu em Belém. Por isso é o Messias prometido, conf. anunciou Miquéias (Mq 5,1).
Chegou o tempo da paz anunciada por Isaías, em que animais e seres humanos vão se reconciliar e farão desaparecer da terra toda a violência assassina (Is 11,6-9).
O imperador romano pensava ser o dono do mundo. Na realidade, ele não passava de um empregado. Sem saber e sem querer, ele executava os planos de Deus, pois o decreto imperial fez com que Jesus pudesse nascer em Belém e realizar a profecia (Lc 2,1-7).

O que chama a atenção neste texto são os contrastes:
Na escuridão da noite brilho uma luz (2,8-9)
O mundo lá de cima, o céu, parece desabar e envolver nosso mundo cá de baixo (2,13).
A grandeza de Deus se manifesta na fraqueza de uma criança (2,7)
A glória de Deus se faz presente numa manjedoura de animais (2,16)
O medo provocado pela repentina aparição do anjo dá lugar à alegria (2,9-10)
Pessoas que vivem marginalizadas de tudo são as primeiras convidadas (2,8)
Os pastores reconheceram Deus presente numa criança (2,20)